Disciplina - Lingua Portuguesa

Português

20/09/2013

Meus livros nunca estão na minha memória, diz escritor Mia Couto

Moçambicano veio ao Brasil para lançar 'Cada Homem é uma Raça'.
Ele conta que teve que reler o livro, escrito há 20 anos.

O escritor moçambicano Mia Couto esteve no Brasil para o lançamento do livro ‘Cada Homem é Uma Raça’. Biólogo, ele conta que o livro tem mais de 20 anos, mas está sendo relançado. “Os meus livros nunca estão na minha memória. Para estarem na imaginação, eles não podem estar na memória. É como se houvesse um conflito entre os dois. Depois de escrever, tenho que os colocar no completo esquecimento. Não lembro nada do que fiz, dos personagens, dos versos. Tive que reler o livro, era uma vergonha não saber o que tinha feito”, conta.

Mia Couto afirma que o contexto foi a guerra civil do seu país de origem, Moçambique, que só acabou dois anos mais tarde. “A guerra não era só um assunto militar ou político, mas uma busca por uma identidade violentada. Esse diálogo desses textos, com seu próprio tempo, funcionou bem”, afirma o escritor.

Escrita oral

“Toda a minha escrita é suscitada por vozes. É como se eu fosse a mão de alguma voz antiga que está me ditando coisas. A relação com a oralidade é muito importante em um país em que a maior parte das pessoas vivem nesse universo. As pessoas produzem pequenas histórias, é um diálogo muito intenso entre o mundo real e o que eu construo na página do livro”.

Relação com a família

“Minha família não acreditava em mim, era o oposto. Eu era esmagado, até me chamavam de retardado em casa. Eu era incapacitado para fazer coisas práticas. Nós não éramos ricos, tínhamos que fazer as tarefas práticas. Mas eu estava isento, porque sempre estragava as coisas. Meu pai percebia que eu estava ali, mas estava no meu próprio mundo. As pessoas que passavam era um entretenimento sem fim. Ainda hoje faço isso, fico perdido em uma rua como um espetáculo infinito”.

Nome exótico

“Meu nome eu me dei com dois ou três anos, não me lembro, mas foi pelo modo como eu vivia com os gatos, como eu me identificava com eles. Meus pais aceitaram isso como uma coisa séria, solene, mas por outro lado foi como se a infância tivesse ficado gravada no meu nome. Às vezes me arrependo, porque em muitos casos esperam outra pessoa, mas hoje em dia me divirto com isso”.

Esta notícia foi publicada dia 20/09/13 no site http://g1.globo.com. Todas as informações contidas nela são de responsabilidade do autor.
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