Disciplina - Lingua Portuguesa

Português

25/06/2013

Literatura básica para manifestações

Não são poucos os livros que tratam dos protestos. A história esconde erros e acertos
Povo na rua é sinônimo de contestação da ordem estabelecida, desde que o mundo é mundo. E é também assunto de livro. O assunto é tão vasto que rios de tinta correram e florestas de papel caíram para que fosse explicado. Ou que tentassem explicá-lo.

A mais famosa manifestação de rua dos tempos recentes - o maio de 1968 - foi descrita, analisada e esmiuçada em incontável bibliografia. Normal, mesmo porque aconteceu na terra em que uma manifestação de rua, em aparência de pouco alcance, que culminou a tomada da Bastilha, teve consequências imensas e em todo o Ocidente. A Revolução Francesa, que custou a cabeça de reis e mudou a face da História Ocidental, começou com a tomada de uma velha prisão, na qual restavam apenas sete presos, segundo contam as crônicas da época. Quem quiser se informar sobre esses fatos não tem melhor caminho que ler as obras do historiador inglês Eric Hobsbawm em A Era das Revoluções (Cia das Letas).

O mesmo Hobsbawm se debruça sobre o maio francês em um livro mais abrangente, A Era dos Extremos, que versa sobre o que ele definiu como “século breve”, o século 20, que teria começado, na verdade, no começo da 1ª Guerra Mundial em 1914, e terminado com a queda do Muro de Berlim, em 1989. Entre as duas datas, o maio de 68, que Hobsbawm analisa como um período de “aceleração da História”, um episódio limitado no tempo, e, em aparência, fracassado.

Na ocasião, estudantes da Sorbonne e de Nanterre defendiam reivindicações específicas da classe estudantil. Mas o protesto ampliou-se e o movimento se diversificou. Os operários franceses da Renault e outras empresas entraram no movimento e decretaram greve. O país parou. Quem quiser entender a época pode se beneficiar de clássico do filósofo alemão Herbert Marcuse, Eros e Civilização, que era uma espécie de manual de vida da moçada 68. Marcuse retoma conceitos freudianos para entender como a repressão sexual podia servir à dominação política. E, como, por extensão, a liberação sexual acompanha o pensamento libertário em política.

Mas há inúmeros outros livros que podem dar ideia do período, revivendo-lhes o clima e motivações. Em 68: Paris, Praga, México (Rocco), o escritor mexicano Carlos Fuentes rememora sua vivência nesse tempo de rebeldia. Maio de 68 (Azougue), organizado por Sérgio Cohn e Heyk Pimenta, traz textos antológicos, como a entrevista de Jean-Paul Sartre com Daniel Cohn-Bendit, um dos líderes do movimento,

Cohn-Bendit, ou Danny, Le Rouge, alemão de origem porém residente em Paris nos anos 60, tornou-se um dos principais líderes da época. Mais tarde converteu-se ao Partido Verde e publicou um livro relativizando o movimento, Forget 68 (Éditions de l'Aube). Para ele, é tão irrelevante fazer de conta que 68 não existiu, como queria o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, ou insistir em realizar as promessas de 68, como insiste ainda parte da esquerda. Difícil mesmo de realizar porque, das pautas específicas, os estudantes passaram a exigir “a imaginação no poder” e outras coisas mais. Sonhava-se alto naquele tempo. O que havia começado nas ruas terminara por acuar o governo de Charles De Gaulle que, no entanto, deu a volta por cima e levou a melhor. Prevaleceu o conservadorismo francês. Mas os avanços dessa revolução falhada foram permanentes e se deram mais no campo do comportamento e das artes.

Esta notícia foi publicada dia 25/06/13 no site http://www.bemparana.com.br. Todas as informações contidas nela são de responsabilidade do autor.
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