Disciplina - Lingua Portuguesa

Português

30/05/2011

Contemplar as variantes da língua exige preparo docente

Rodrigo Ratier
Contemplar as variantes da língua exige preparo docente
Não custa enfatizar, entretanto, que o respeito às variedades linguísticas por meio das quais os estudantes se expressam ao chegar à escola não significa que o professor deva abrir mão do ensino da norma culta. Ao contrário. O que se pretende é que a reflexão sobre as relações entre oralidade e escrita leve os estudantes a compreender a linguagem como uma atividade discursiva. Ou seja, um processo de interação verbal por meio do qual as pessoas se comunicam.
Pensar a fala e a escrita como discurso não é pouca coisa: exige competência para planejar a expressão de acordo com o lugar em que ela vai circular (uma conferência acadêmica? Uma conversa no jantar?), levando em conta seus interlocutores (uma autoridade? Um grupo de amigos?) e a finalidade da comunicação (expor um argumento? Relembrar uma lista de compras?). Dessa perspectiva, os gêneros escritos continuam com espaço cativo. A diferença (para melhor) é que você, professor, deve ocupar-se também das situações formais de uso da linguagem oral (seminários, entrevistas, apresentações etc.), igualmente fundamentais para o exercício da cidadania.
Cabe lembrar, ainda, que valorizar os modos de expressão coloquiais é uma opção especialmente válida na EJA. As experiências indicam com clareza que iniciar o trabalho mostrando a utilidade daquilo que os estudantes conhecem é um dos pontos de partida mais eficazes para mobilizar o público dessa etapa de ensino - adolescentes e adultos com trajetórias escolares marcadas pela falta de oportunidades, o abandono e a multirrepetência, vários empurrados para fora das salas por um ensino excessivamente apegado à repetição de nomenclaturas e à memorização de regras estruturais.
Por trás da crítica ao diálogo da escola com os saberes populares está a defesa, muitas vezes inadvertida, de um sistema educacional campeão em evasão, reprovação e analfabetismo funcional. Como o que construímos até hoje.
Esta notícia foi publicada em 30/05/2011 na Revista Nova Escola. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
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