Disciplina - Lingua Portuguesa

Português

11/01/2011

O desafio de ensinar Língua Portuguesa a alunos surdos

Por Paula Nadal
Ao chegar ao 1º ano, espera-se que os alunos com deficiência auditiva que passaram pela Educação Infantil saibam comunicar-se em Libras e sejam capazes de escrever o próprio nome. Mas vale lembrar que essas crianças começam o Ensino Fundamental sem conhecimento da Língua Portuguesa falada e, por isso, não partem do mesmo princípio que os alunos ouvintes para aprender a ler e a escrever.
A apropriação do sistema alfabético, nesses casos, se dá através da visão e, por isso, o planejamento de atividades intensas de leitura com interpretação em Libras e com a utilização de recursos visuais (como imagens e letras móveis) são ações fundamentais para que a criança seja alfabetizada em um contexto de letramento.
Orientações
Ao contar histórias para o aluno com deficiência auditiva, faça com que ele observe detalhes da escrita e da ilustração. As palavras grafadas sempre devem estar associadas ao seu significado interpretado em Libras. Elabore atividades de escrita de listas e organize coleções com a turma. Crachás com os nomes de todos podem ser usados em sala, assim como desenhos relacionados a palavras - a memória visual, para a criança com deficiência auditiva é muito importante.
O maior desafio para o aluno surdo é que ele compreenda a língua como prática social. O acesso a diferentes materiais escritos, portanto, é crucial para ampliar o conhecimento linguístico do aluno e fazer com que ele consiga produzir textos coerentes em Língua Portuguesa até o final do 5º ano.
Uma boa experiência
Ao receber uma aluna surda no 1º ano, a professora Graziele Kathleen Tavares Santana de Albuquerque, da EMEF Professora Dulce Bento Nascimento, no distrito de Barão Geraldo, em Campinas, a 83 quilômetros de São Paulo, colocou em prática os conhecimentos do curso de Libras que fez. Por tratar-se de uma classe de alfabetização, Graziele decidiu ensinar Língua Portuguesa escrita e Libras para toda a turma. "Eu percebi que as crianças queriam encontrar formas de se comunicar com a colega que não ouvia", conta. Para tanto, ela organizou jogos em Língua Portuguesa escrita, língua de sinais e imagens; fixou cartazes relacionando palavras, imagens e sinais; utilizou o dicionário trilíngue e leu histórias para as crianças interpretando-as em Libras. Aos poucos, as leituras passaram a ser interpretadas na língua de sinais pelos próprios colegas ouvintes.
O trabalho com a aluna do 1º ano - que continuou ao longo do 2º ano - fez com que Graziele conseguisse incluir a escola em um projeto da Prefeitura de Campinas. Para atender a demanda por intérpretes, a Secretaria de Educação criou as Escolas Pólo, localizadas em pontos estratégicos do município para incluir alunos com deficiência auditiva. Essas escolas contam com intérpretes para as aulas nas turmas regulares; um instrutor surdo, que ensina Libras aos que ainda não a dominam; e uma sala bilíngue - hoje, sob responsabilidade da professora Graziele - que oferece atendimento especializado aos alunos com deficiência auditiva na disciplina de Língua Portuguesa.
Esta notícia foi publicada em 11/01/2011 na revista Nova Escola. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
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