Disciplina - Lingua Portuguesa

Português

03/01/2011

2010 Pelos livros, valeu

Alexandre Gaioto
Quem aprecia a boa literatura não tem do que reclamar neste 2010. A produção literária foi extremamente bem produzida nos gêneros conto, romance e poesia. No panorama nacional, os livros mais esperados foram "Um Erro Emocional", do curitibano Cristovão Tezza, e "Em Alguma Parte Alguma", do poeta maranhense Ferreira Gullar.
As duas obras estavam previstas para serem lançadas no final de 2009, mas só chegaram às livrarias no segundo semestre. Alívio para os leitores de Gullar.
O autor de "Poema Sujo" (1976) não publicava um livro de versos inéditos há onze anos. Forte candidato a melhor livro do ano em todos os prêmios literários de 2011, "Em Alguma Parte Alguma" é um livro delicado e mostra o poder das palavras do maior poeta brasileiro vivo, versando sobre morte e o cotidiano. Na obra, Ferreira Gullar faz referências ao escritor austríaco Rainer Marie Rilke e dedica meia dúzia de poemas ao seu gatinho de estimação.
Já o curitibano Cristovão Tezza também saciou a curiosidade de seus de 2010, "Em Alguma Parte Alguma" leitores que, desde "O Filho Eterno" (2007), estavam curiosos para acompanhar seu próximo romance. Numa história de amor, escrita em linguagem límpida e ritmo narrativo veloz, Cristovão Tezza retomou os temas que marcaram suas obras passadas, como "Uma Noite em Curitiba" (1995) e "O Fotógrafo" (2004), e traz para a ficção as tensões dos relacionamentos conjugais.
De Curitiba, Dalton Trevisan mostrou que não perdeu a forma. Aos 84, continua lançando um livro por ano. Desta vez, o "Vampiro de Curitiba" saiu à tona com "Desgracida", investindo em contos curtíssimos, retratando marginais, ladrões, traficantes e prostitutas. Um dos pontos mais peculiares da obra é a inusitada seção que reúne sua correspondência particular. Nas más traçadas linhas de Dalton Trevisan, ele debocha de Guimarães Rosa e decreta que Machado de Assis é o maior contista brasileiro.
Considerado o melhor contista brasileiro, Dalton Trevisan foi o tema da obra de outro paranaense, o escritor Miguel Sanches Neto, de Ponta Grossa.
Em "Chá das Cinco com o Vampiro", Miguel Sanches Neto romanceou sua relação com Dalton Trevisan e o retratou de forma cruel. Na obra, o autor fala mal de Dalton, como sujeito e escritor.
A obra, em si, é ruim. Mas é, de fato, um livro histórico na literatura nacional. Ele conseguiu mostrar, pela primeira vez, detalhes sobre a rotina e a vida pessoal do mais recluso escritor brasileiro de todos os tempos. Em troca, foi chamado de "hiena papuda" pelo curitibano e seu livro foi duramente rechaçado no círculo dos escritores.
Entre os novos poetas, os destaques deste ano são os paulistas Fabrício Corsaletti, com "Esquimó", e Alberto Martins, que publicou "Em Trânsito". Ambos publicados pela Companhia das Letras, comprovam que a poesia contemporânea no Brasil tem voz própria e está sólida, mesmo quando comparada ao universo literário de outros países, como Argentina e Alemanha.
Estrangeiros
Dos nomes internacionais, o ano de 2010 teve boas surpresas. O norteamericano Philip Roth, pela primeira vez em sua trajetória, escreveu sobre a relação de um casal de lésbicas, compondo, em "A Humilhação", personagens perturbadas psicologicamente.
Conterrâneo de Roth, Paul Auster fez bonito em "Invisível". Provocou a sociedade estadunidense com uma relação incestuosa entre irmãos e fez uma bela história de amor, em clima de suspense , numa narrativa ágil.
Com "Verão", o sulafricano J. M. Coetzee mostrou uma verve bem humorada ao romancear sua própria biografia a partir das perspectivas das mulheres com as quais se envolveu.
Esta notícia foi publicada em 03/01/2011 no Odiario.com. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
Recomendar esta notícia via e-mail:

Campos com (*) são obrigatórios.