Disciplina - Lingua Portuguesa

Português

09/08/2010

'A ideia do Brasil no exterior é muito limitada', diz americano

Biógrafo de Clarice Lispector, Benjamin Moser falou de literatura brasileira.
Autor debateu com o alemão Berthold Zilly a produção cultural do país.
Luciano Trigo Do G1, em Parati
A mesa “Nacional, estrangeiro” reuniu neste domingo (8) o biógrafo Benjamin Moser e Berthold Zilly, tradutor de “Os Sertões” para o idioma alemão, com mediação do jornalista Claudinei Ferreira, que em sua apresentação afirmou que há uma presença constante da literatura brasileira no exterior.
“Desde o século 19 a literatura brasileira está presente na Alemanha: José de Alencar, Gonçalves Dias e outros autores foram traduzidos lá, mas sob a ótica do exotismo, da cor local", afirmou Zilly.
"Somente a partir dos anos 50 do século 20 os escritores brasileiros passaram a ser percebidos, lidos e comentados como parte da literatura universal, sobretudo com a tradução dos romances de Machado de Assis. E acredito que hoje o crescente interesse da Europa pela política e pela economia da América Latina se refletem também na procura pela literatura do continente”, completou.
Para Moser, autor de uma bem-sucedida biografia de Clarice Lispector, a literatura brasileira não é uma coisa só. “Acho que essa classificação sugere uma literatura unificada, e o leitor de outros países não a percebe assim. Um leitor na Holanda não procura literatura brasileira nas livrarias, procura a obra de um determinado autor. Ou seja, a qualidade dos autores é mais importante que o passaporte. Mas a ideia do Brasil no exterior é muito limitada”.
'O Brasil é muito fácil de vender'
Ainda assim, a necessidade de uma política oficial de difusão da nossa literatura no exterior foi um tema recorrente no debate: foi lembrada, por exemplo, a atuação do Instituto Camões para as letras portuguesas, e do Instituto Goethe para as letras alemãs. Zilly lamentou a descontinuidade de mecanismos de apoio à pesquisa sobre autores nacionais, como o que existia em Oxford e foi recentemente extinto.
Mas Zilly relativizou. “Não acho que se deva falar mal da política cultural do Brasil no exterior, porque se fazem coisas interessantes em outras áreas: o Grupo Corpo e o Grupo Oficina, por exemplo, são conhecidíssimos na Alemanha”. Moser enfatizou, por outro lado, que o Brasil está vivendo um momento bom historicamente. E acrescentou: “O Brasil é muito fácil de vender, tem muita coisa atraente.É importante que haja mais iniciativas, públicas e privadas.”
Mas o momento alto do debate foi quando, falando sobre o preconceito das elites culturais do Brasil contra Paulo Coelho, Moser falou: “Se a gente nos Estados Unidos tivesse vergonha de toda a m... cultural que exporta...”. Nem conseguiu terminar a frase, por causa dos aplausos da plateia em êxtase.
Em seguida, curiosamente, comentou que sua biografia de Clarice está sendo traduzida para o português de Portugal, já que a tradução brasileira foi rejeitada pelos editores portugueses.
Esta notícia foi publicada em 09/08/2010 no G1. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
Recomendar esta notícia via e-mail:

Campos com (*) são obrigatórios.