Disciplina - Lingua Portuguesa

Português

07/06/2010

Escola e pais devem associar leitura à felicidade

Sem relação emocional e incentivo de pais e professores é muito difícil fazer com que crianças e jovens leiam livros
“Leitura é uma forma de felicidade e nenhuma felicidade pode ser obrigatória.” A frase do escritor Jorge Luis Borges mostra o caminho a ser trilhado para reverter a preocupante realidade do País, onde apenas um em cada cinco cidadãos tem o hábito de ler. Se a literatura é um devaneio, que trata especificamente da condição humana, de seus êxitos, sonhos, amores e sofrimentos, como explicar o fato de tantos brasileiros estarem alijados desse prazer?
Seja pelo convidativo sol forte, pelo dado genético que nos propicia molejo nos quadris, pelo intenso apelo da imagem (trabalhada na televisão para ser consumida imediatamente, sem qualquer esforço) ou pela pobreza material capaz de tornar supérfluo um livro, um batalhão de pessoas jamais se encontrou ou se descobriu na literatura. Sem a relação emocional, é difícil transformar leitura em hábito.
Se encontrar um companheiro próximo ao ideal exige esforço, humildade para com o amigo interessado em apresentar uma pessoa especial, além de paciência para identificar virtudes e defeitos do outro, com os livros parece não ser muito diferente. Em alguns casos, o amor à primeira vista acontece e cedo. Para grande maioria, o enlace ocorre mais tarde, após a apresentação de vários títulos. Um dia, a identidade se dá com um deles e, finalmente, começa a história de amor com a literatura.
O trajeto, no entanto, não é fácil. Como grande parte das famílias não tem o hábito de ler, inclusive por conta do contexto socioeconômico, resta às escolas fazer a introdução. Eis aí um novo obstáculo. Parte dos professores também não é leitor. Oriunda das classes populares, muitos consumiram leitura massificada. E é com base no repertório que indicará livros aos próprios alunos.
“Na escola, praga mesmo não é o professor que não manda ler, é o professor que não lê. Quem não lê não sabe o que está perdendo e, portanto, não tem por que aconselhar ou criar oportunidades para que outros leiam. A experiência de leitor é intransferível”, afirma Sírio Possenti, doutor em linguística pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Não por acaso, muitas leituras na escola são feitas de modo impositivo, com objetivos práticos e utilitários, sem qualquer relação com a realidade dos alunos. A partir daí, fácil entender a resistência construída com o passar dos anos. Difícil é reverter a situação.
Mudar esse contexto exige do professor (muitas vezes de alunos já da graduação) habilidades múltiplas. Para cavar espaço para o texto literário, alguns promovem leituras coletivas, dramatizadas e realizam oficinas, por exemplo. Empenho para garantir ao outro um prazer que acalanta a vida e, de quebra, oferece noções como de filosofia, geografia e política.
Este conteúdo foi acessado no Jornal JCNET dia 06/06/2010. Todas as modificações posteriores são de responsabilidade do autor original da matéria.
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