Disciplina - Lingua Portuguesa

Português

22/02/2010

O Twitter e o Soneto

POR EDIVAL LOURENÇO
Twitter e Soneto apresentam algumas coincidências que vão muito além da aparência inicial: ambos são substantivos paroxítonos que definem um modo formal de exposição do discurso e são dotados de três sílabas gramaticais ou duas sílabas métricas.
Soneto é uma composição poética megavelha, vetusta mesmo. Segundo os “paleontólogos literários”, essa forma poética teve início na idade média, ali pelo final do século 12, início do 13. A autoria do primeiro soneto é controvertida e se divide entre três poetas sicilianos. O termo Soneto vem do provençal (o idioma dos trovadores medievais) sonet, que quer dizer som, melodia, canção. Em pouco tempo virou coqueluche e se tornou a forma preferida dos poetas. Encantou Dante, Petrarca, Camões e Shakespeare. O nosso sonetista mais notável foi certamente Olavo Bilac, aquele do “Ora, direis, ouvir estrelas, certo perdeste o censo e eu vos direi no entanto”... Drummond escreveu sonetos, Bandeira Escreveu Sonetos, Gullar escreveu pelo menos um, que eu sei.
O Twitter, como o Soneto, vem de uma referência ao som. Derivou da palavra homófona Tweeter (que se escreve diferente mas tem o mesmo som), que quer dizer caixa minúscula de sons agudos, de alta frequência (acima de 5000 Hz). Portanto, Twitter é, como o soneto, uma forma de comunicação, só que ultramoderna. Trata-se de uma rede de comunicação em que os assuntos da hora são tricotados entre os usuários em tempo real. Mas sua semelhança convicta com o Soneto, além das que já mencionamos, está no seu aspecto formal. O soneto, de ordinário, comporta no máximo 140 sílabas poéticas. Igualmente, o Twitter comporta no máximo 140 caracteres. É muita coincidência, não?
Desde que foi criado pelo arquiteto de software e nerd americano Jack Dorsey em 2006, o Twitter se alastrou feito praga. No Brasil é o piolho digital da vez. Entre nós, o maioral dessa comunicação é o apresentador da Rede Globo, William Bonner. Toda vez que ele posta uma mensagem, ela é vista por mais de 100 mil seguidores. É uma caixinha de som, mas com um poder de comunicação descomunal.
Mas não pensem que só as pessoas bacanas como o Bonner aderem à moda, não. É democrático. Qualquer pé-de-pau pode twittar. Quando digo pé-de-pau, é pé-de-pau mesmo. Li outro dia que um camarada abriu um Twitter pra sua samambaia. Pô, meu, mas samambaia não escreve. Não escrevia. Agora escreve. Foi instalado nela um biossensor. E toda vez que quer mais água, mais adubo, mais luz, ela sensibiliza um texto já programado e envia a seus seguidores (o dono dela e também o zelador). Bacana, assim!
Há exceções notáveis. O presidente Lula não tem, porque escrever também lhe dá azia, mesmo que sejam 140 toques apenas. Fidel Castro também não, por motivo oposto. Até chegou a se cadastrar, mas desistiu quando soube que não eram 140 mil toques.
O Twitter é moderno pra caramba e o soneto é velho que esmolamba. No entanto, são farinhas do mesmo saco. Só que sacos de épocas muito diferentes.
Este conteúdo fo acessado em 22/02/2010 do sítio http://www.revistabula.com. Todas as modificações posteriores são de responsabilidade do autor original da matéria.
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