Disciplina - Lingua Portuguesa

Português

25/01/2010

Alfabetizado ou letrado?

por Elizete Feliponi/clic/RBS
Este ano é de eleições. Preste atenção às propagandas incansavelmente veiculadas pelos políticos, os quais clamam pelo trabalho árduo da erradicação do analfabetismo. O Brasil precisa mais do que pessoas que saibam ler e escrever, ou seja, que dominem a técnica da aquisição dos códigos linguísticos. O Brasil precisa de pessoas letradas.
O termo “letramento” ainda é novo. Foi utilizado pela primeira vez por Mary Kato, em 1986, com o objetivo de destacar aspectos envolvidos na aquisição e utilização da linguagem escrita. No entanto, o fenômeno que o compõe há tempos faz parte do universo educativo, pois se sabe que apenas ler e escrever de forma rudimentar não é mais suficiente. Estados Unidos e Inglaterra são exemplos de países que, periodicamente, realizam testes para verificar as habilidades de leitura e escrita da população e, a partir dos resultados, buscam desenvolver mecanismos de superação das dificuldades. França e Portugal também demonstram preocupação acentuada em formar para o “letramento”, e não apenas para o ato mecânico de ler e escrever.
Mas, afinal, o que é um e o que é o outro? Alfabetizar possui importância ímpar na formação escolar e é um dos componentes do “letramento”. É um processo dotado de especificidades que devem ser valorizadas e aperfeiçoadas, pois implica dominar, codificar e decodificar os fonemas e grafemas da língua. Tem uma tecnologia peculiar, pois exercer o seu domínio não é tarefa das mais fáceis, mas quando ocorre a apropriação desse processo, o prazer em exercê-lo é indefinível. A alfabetização ocorre junto com o letramento. Este, por sua vez, começa com o nascimento, pois a criança é inserida num mundo letrado e tem continuidade por toda a vida.
Para Magda Soares, professora e pesquisadora do tema, “letramento é o estado em que vive o indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas exerce as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vive: sabe ler e lê jornais, revistas, livros; sabe ler e interpretar tabelas, quadros, formulários, sua carteira de trabalho, suas contas de água, luz, telefone; sabe escrever e escreve cartas, bilhetes, telegramas sem dificuldade, sabe preencher um formulário, sabe redigir um ofício, um requerimento. São exemplos das práticas mais comuns e cotidianas de leitura e escrita”. Ou seja, letramento é a habilidade de fazer uso da leitura e escrita para inserir-se de forma atuante num mundo que apresenta, cada vez mais, demandas por práticas altamente técnicas, que envolvam a interpretação e a compreensão da realidade, possibilitando ao cidadão a capacidade de atribuir e produzir novos significados ao que vê, lê e escreve.
As escolas, há tempos percebendo essa necessidade, sem necessariamente dominar como “letramento”, estão trabalhando sem medir esforços para promover a formação de uma sociedade mais esclarecida e atuante ao que compete ler e escrever. Mas instituições isoladas não resolvem sozinhas. No processo, incluímos as políticas desenvolvidas pelas secretarias de Educação e a participação familiar, entre outras.
As primeiras nem sempre acontecem: ou por falta de verbas, o que implica falta de profissionais preparados para organizar e dar continuidade ao trabalho de sondagem, pesquisa e práticas de trabalho que interfiram no processo de leitura e escrita das escolas e comunidades; ou falta de priorização e esclarecimento das necessidades educacionais; a segunda, permeada por um vasto número de implicações, desde a falta de conhecimentos das famílias até a dominação do ambiente por recursos tecnológicos ineficazes, como os video games e excesso de televisão, os quais promovem, infelizmente, a supremacia dos aparatos tecnológicos e a desvalorização dos livros.
Engana-se quem ainda pensa que a tecnologia dispensa, por exemplo, a ortografia. Mais do que nunca, fazer uso de forma autônoma desse instrumento requer a condição de letramento, como para todo o resto, pois nosso mundo é feito de códigos.
feeling_ef@yahoo.com.br
*Professora e estudante de neuropsicopedagogia
Publicado em 15 de janeiro de 2010.
Fonte:http://www.clicrbs.com.br
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