Disciplina - Lingua Portuguesa

Português

17/07/2009

Competência comunicativa

Não se pode discutir o ensino da língua sem levar em conta, no caso do Brasil, uma variável fundamental: a classe social. Esta é responsável pela presença na escola de uma multilplicidade de variedades linguísticas com predominância dos dialetos populares.
Dell Hymes criou o conceito citado no título a partir da necessidade do falante de entender e usar as variedades de acordo com o contexto linguístico e social. A modalidade popular de Língua Portuguesa não está sendo bem trabalhada na escola, que se baseia na norma culta e no dialeto de prestígio como objetivo. E não consegue realizar este objetivo.
O estudo das variedades da Língua Portuguesa, com a ajuda das teorias sociolinguísticas, é necessário para conhecer as distâncias e divergências entre o dialeto popular e de prestígio. Aliás, o comportamento da escola reforça a estigmatização dos dialetos populares. O cerne do problemas do ensino de Língua Portuguesa não seriam os métodos e técnicas e não estaria afeito a planejadores e pedagogos. Manipular técnicas sem ter conteúdo é operar no vazio.
Este tema é do âmbito dos lingüistas e professores de Língua Portuguesa, que não devem apenas se indagar o que fazer mas procurar entender o que está acontecendo, aplicando seu instrumento teórico para resolver o problema prático.
Os estudos sociolinguísticos mostram que se deve relacionar os traços linguísticos e os dados extralinguísticos para ver em que medida as variações dos dois domínios são concomitantes.
Em tom de “blague”, diz Magda Soares que os manuais didáticos são livros de receita frustrados, pois enquanto as receitas culinárias dão certo, as didáticas dão errado.
Deve-se fazer com o ensino da língua materna aquilo que se faz no ensino das línguas estrangeiras: um estudo contrastivo. Apesar de respeitar o dialeto do aluno, o professor deve ensinar o dialeto padrão, pois a língua de cultura é um instrumento de luta social e não temos direito de sonegá-lo às classes populares.
A gramática desempenha um papel importante na aquisição desta língua de cultura. Há uma correspondência entre estruturas de pensamento e estruturas linguísticas que se reflete na linguagem da classe média e da popular. A primeira usa uma linguagem rica em subordinadas de causa e efeito, de finalidade e consequência, própria do diálogo racional e argumentativo.
O dialeto popular usa orações coordenadas e justapostas em nível de expressão muito afetivo e pouco racional. Adepta de Labov, lingüista americano, Magda Soares não desdenha a contribuição de Bernstein (sociólogo inglês) para esclarecer as questões da linguagem na escola, através da identificação das diferenças.
O processo de socialização da criança das classes populares, com poucos contatos com o mundo “culto e letrado” e com a linguagem “elaborada” é o grande responsável pelo seu fracasso na escola, veículo de valores da classe média. Como responsáveis ainda pela dificuldade de aprendizado tem-se, pois, a falta de contato com a realidade cultural dominante, a desmotivação para o estudo e ausência de perspectivas de futuro.
Os índices alarmantes da alfabetização mal sucedida no Brasil advêm do fato de que o trabalho na área é aleatório, feito por quem não está preparado, nem conhece a correspondência entre os sistemas fonológico e ortográfico.
A competência comunicativa em língua materna é necessária também para compreender e dominar as demais disciplinas e transformar o ensino, elevando os índices de aprendizado, salvando, afinal, a escola brasileira da zona de reprovação.

Fonte:http://pe360graus.globo.com/
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