Disciplina - Lingua Portuguesa

Português

06/02/2009

Reforma ortográfica: perda de identidade?

Fabiola Pereira Rodrigues Figueira (UFRJ)
No último dia do ano de 2008, enquanto me aprontava para comemorar  a virada do ano, ouvia o Jornal Nacional, quando uma matéria sobre reforma ortográfica, cujo título era: “Portugueses se queixam da reforma ortográfica” me chamou atenção. Parei o que estava fazendo e fui assistir. Na reportagem haviam reunidos quatro portugueses e um angolano que viviam no Brasil, para discutir a reforma e logo no início um dos convidados portugueses, Antonio Lopes Ribeiro, disse: “Nós vamos sentir que os “brasileiros” entre aspas estão mandando em Portugal. Nós não vamos gostar. Essa é a verdade.”  Isso porque a mudança em Portugal atinge um número três vezes maior que no Brasil, mudanças que já acorreram aqui como o C mudo de  afecto, lá ocorrerá agora com a reforma. Acredito que um dos motivos da indignação dos portugueses é o medo da perda de identidade, além de não quererem se submeter (como acreditam) às mudanças “abrasileiradas”. Antonio Lopes Ribeiro  acrescentou ainda “Eu já estou quase sexagenário, eu vou continuar escrevendo do jeito que eu sempre escrevi".
Como sabemos a língua não pára, é como um rio e nunca é a mesma. Querer impor, pôr, tirar, mudar “regras” trás confusão, medo e preocupação às pessoas que na sua formação aprenderam que “tem que falar certo” e “tem que escrever certo”. É preciso entender que a língua é como roupa: um tipo para ocasiões descontraídas, outro tipo para ocasiões mais formais e que, ainda, é importante conhecer todos os tipos para se adequar a cada ocasião. Não sou uma defensora da reforma, mas cabe lembrar que a mesma não influenciará no sotaque, nas gírias, no modo de falar. Se no Brasil usamos “trem” e em Portugal “comboio” continuará sendo assim. Ninguém perderá sua identidade, até porque a língua não é uma “lei” ou “um decreto”, a língua é a forma de  expressão e além de tudo é viva. Marcos Bagno fala sobre isso em “Preconceito lingüístico: o que é, como se faz”. No mito número 6 “O certo é falar assim porque se escreve assim” Bagno afirma que existe uma tendência em querer obrigar o aluno a pronunciar do jeito que escreve, como se esta fosse a única forma correta de falar português e diz ainda que “nenhuma língua é falada do mesmo jeito em todos os lugares e nem todas as pessoas falam a própria língua de modo idêntico.” Portanto podem vir mudanças, reformas, leis, regras, que nada disso influenciará a maneira de falar, de se expressar e de entender. Teremos que nos adaptar às novas regras? é bom conhecê-las, de vez em quando teremos que usá-las “corretamente”, de repente num concurso ou em textos, trabalhos e teses que nos exigirão isso, mas é importante sabermos e falarmos para os nossos alunos que não tem necessidade de desespero, que com o tempo tudo se ajustará e que nada disso influenciará na sua maneira de falar, nas gírias ou no seu sotaque baiano, mineiro, “português” ou “brasileiro”.
Referências bibliográficas:
 BAGNO, Marcos. “O certo é falar assim porque se escreve assim” in  Preconceito lingüístico: o que é, como se faz. 4º edição, São Paulo: Loyola 2000.
Fonte: http://www.letras.ufscar.br
Recomendar esta notícia via e-mail:

Campos com (*) são obrigatórios.