Disciplina - Lingua Portuguesa

Português

10/10/2008

Sobre o ensino de nossa língua materna

Por Marinho Celestino De Souza Filho¹
Penso que, atualmente, o ensino-aprendizagem de nossa língua materna está completamente defasado. Primeiro: os objetivos não estão bem-definidos. Segundo: utiliza-se uma metodologia inadequada. Terceiro: os critérios também estão inadequados, não existe uma concepção clara sobre a linguagem a ser trabalhada. Conforme Perini² (1997: p. 54): “(...) As nossas gramáticas escolares não são organizadas de maneira lógica, e como estudar uma disciplina sem lógica? Como gostar ou incentivar o gosto por uma disciplina que foge completamente da lógica?” É por isso que, na maioria das vezes, os alunos detestam esta disciplina. Nas aulas de Língua Portuguesa, em boa parte das escolas brasileiras, costuma-se dar uma enorme lista de prefixos, radicais gregos e latinos, pedindo ao aluno que os decore. Em seguida, faz-se uma “prova”, na qual apenas os privilegiados de memória conseguem ser aprovados. E os outros? Quanto aos demais alunos, a maioria é reprovada: ou por não verem sentido em decorar um número enorme de prefixos e radicais, ou por não serem privilegiados na “arte da decoreba”. O aluno, ao ingressar na escola, entra encantado, “louco” para estudar. E a instituição, o que faz com ele? Desde a segunda série do ensino fundamental, a escola já acaba com a alegria desse aluno ao mandá-lo decorar, por exemplo, uma enorme lista de substantivos coletivos ou, um pouco mais tarde, ao ensinar às crianças nomenclaturas que seriam mais adequadas para especialistas, estudiosos da linguagem e acadêmicos. Quando o professor diz aos alunos que “substantivo é a palavra que nomeia os seres”, que “seres” são esses? De carne e osso? Extraterrestres? Neste exemplo simples, percebemos a incoerência das gramáticas normativas. O que fazer então? Deixar de ensinar a gramática normativa? Não, muito pelo contrário, deve-se ensiná-la. Mas de que forma? O ensino de gramática deve ser contextualizado, embasado não só na gramática normativa², porque este não é o único tipo de gramática que existe. Deve-se valorizar, como diz Paulo Freire, a “bagagem do aluno”, isto é, a linguagem que ele traz de casa, seus anseios, seus desejos, expectativas frente à vida e, principalmente, o seu “contexto-sócio-histórico-ideológico” ³. Além disso, deve-se embasar o ensino da língua portuguesa na análise, leitura e interpretação através dos mais variados tipos de textos possíveis, fazendo com que o aluno tenha um contato íntimo com sua língua, podendo aprender muito mais. O ensino de gramática deve ser libertador, contextualizado, e não um ensino opressor que, leva em consideração apenas um único tipo de gramática. Seria interessante, também, aplicar o ensino de gramática em diversos tipos de textos, mas com cuidado. Utilizar um texto de Drummond, Luis Fernando Verissimo ou Cecília Meireles, por exemplo, apenas para análise de sujeito, predicado, objeto direto, etc. pode ser uma “faca de dois gumes”. Cuidado! Além de muitos alunos já detestarem gramática, eles poderão também detestar esses textos. Sugiro que, depois de oportunizar que os alunos deliciem-se com os textos, aí sim, surge o momento para este tipo de trabalho. ¹ Marinho Celestino de Souza Filho, mestre em Lingüística e professor de Língua Portuguesa da Unijipa – União das Escolas Superiores de Ji-Paraná e da Escola E.E.F.M. Coronel Jorge Teixeira de Oliveira, ambas as Instituições localizadas em Ji-Paraná cujo estado é Rondônia. ² Para saber mais ver: PERINI, Mário Alberto. (1997). Sofrendo a Gramática. São Paulo: Ática. ³ Para se informar melhor sobre a questão do Contexto sócio-histórico-ideológico, ver: TRAVAGLIA, Luiz Carlos. (1996). Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de Gramática no 1º e 2º Graus. São Paulo: Cortez.

Fonte: http://www.soportugues.com.br

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