Disciplina - Lingua Portuguesa

Português

09/07/2008

Primeiro livro escrito no "novo" português já está disponível na internet

Com uma linguagem fácil e rápida de ler, está na internet “O Endireita” (www.oendireita.com) – primeiro livro de ficção escrito em conformidade com o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa do mundo. A obra é uma série de 14 contos com capa, prefácio e paginação, podendo ser folheada, tal como um livro, e está disponível on-line gratuitamente para qualquer leitor.
Com textos curtos e uma narrativa repleta de frases soltas e até opiniões do autor, “O Endireita” descreve personagens comuns do cotidiano de uma forma inteligente e gostosa de ler. Em algumas partes do livro, o gosto pessoal do autor se confunde com o dos personagens e assim Aretha Franklin, Madonna e até Charles Chaplin ganham vida na narrativa.
Os personagens do livro, bem como suas histórias, inspiraram o produtor e diretor teatral José Henrique de Paula a encenar uma peça baseada em "O Endireita". A previsão é que ela deverá estrear entre outubro e novembro, em São Paulo. 

O autor

Edson Athayde é brasileiro, publicitário formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, seu Estado natal. Chegou a Portugal em 1991, para construir uma carreira no país. Na bagagem apenas competência e disposição. No mesmo ano em que chegou, ingressou na subsidiária local da Young & Rubicam, aonde chegou ao cargo de Diretor de Criação e Vice-Presidente. Em 1995, assumiu a Direção de Criação da Y&R para a Península Ibérica.
Em 1996 foi nomeado Administrador do Grupo Lusomundo. Em 1998, fundou a agência Edson Comunicação e, simultaneamente, assumiu a presidência da FCB Portugal. Em ambas as agências, acumulou as funções de Diretor de Criação. Em 2005, foi convidado pela Ogilvy Portugal para ser vice-presidente de Criação, onde permaneceu até este ano. Recentemente, Edson conquistou um leão de ouro em Cannes pela direção de arte da peça "Where is the Eagle", pela Ogily Lisboa, da WWF (ONG dedicada à conservação da natureza). De Portugal, Edson Athayde falou com exclusividade ao Portugal Digital.

PD – Qual (ou quais) a dificuldade que você encontrou para escrever com as regras da nova reforma ortográfica?
Edson - Não encontrei dificuldade nenhuma. Até por ser brasileiro de origem, passei os últimos 17 anos a "aprender" a escrever português com uma ortografia diferente daquela que me ensinaram na escola. O que nem foi tão complicado, tendo em vista que são poucas as palavras de uso diário que diferiam entre a norma portuguesa e a brasileira. Alguns acentos, algumas letras mudas, pouca coisa. E o Novo Acordo Ortográfico é bastante magnânimo (se calhar, até demais) ao permitir que o editor decida a grafia que a maioria das palavras podem ter, optando-se pela maneira brasileira ou portuguesa. Logo, o mais importante era encontrar quem pudesse rever o material para corrigir as gralhas (=erros) segundo o Novo Acordo, que sempre acontecem por melhor que seja o autor ou a ortografia vigente.

PD - Quando você foi morar em Portugal, teve dificuldades para se adaptar ao idioma escrito?
Edson - Antes de vir morar em Lisboa, tinha passado alguns anos a trabalhar e a viver em várias partes do Brasil. Isso me ajudou a compreender que, sendo a língua a mesma, o léxico pode ser bastante diverso aqui e ali. Logo, Portugal (e melhor ainda dizendo, Lisboa) exigia-me apenas mais uma adaptação ao registro escrito da língua (também ele diverso do falado). Não foi nenhum bicho de sete cabeças. E, sendo sincero, até hoje vou descobrindo surpresas. Por outro lado, não abro mão também de dar as minhas contribuições. Escrevo sempre como acho que me soa melhor. Não tenho grandes paranóias com o gerúndio, por exemplo. E os pronomes vou colocando ao acaso. De vez em quando alguém repara em alguma coisa e recomenda-me uma correção. Que nem sempre sigo. Até porque boa parte das correções não torna o meu texto mais "português", pelo contrário, apenas reflete uma certa neurose para que ele seja menos "brasileiro", apenas porque o interlocutor sabe a minha nacionalidade.

PD - Como você avalia a amplitude e a efetividade da reforma ortográfica? É válida?
Edson - Gosto principalmente da parte em que estabelece que há várias maneiras corretas de escrever as mesmas palavras. Isso cria uma espécie de "habeas corpus" para a língua. Deixa de haver um olhar de cima para baixo como se houvesse uns donos e uns corruptores.
Contraditoriamente, também é a parte que menos gosto. Tantos anos de trabalho e não dava para implementar uma reforma que propusesse uma única ortografia? Mas, sim, simpatizo com a idéia. E, de quando em vez, defendo-a.

PD- Por que, na sua opinião, Portugal resistiu a aprovar a reforma?
Edson - Dizer que Portugal resiste à reforma é um exagero tão grande quanto dizer que o Brasil a aplaude. Acredito que as maiorias silenciosas de ambos os países cumpririam sem grandes problemas as normas que fossem implementadas. Como vão acabar por cumprir. O problema é as elites de ambos os países transformaram a coisa numa espécie de disputa do tipo "o meu carro é maior ou melhor do que o teu". Há também muita contra-informação. Dizem-se os maiores absurdos sobre o Acordo. E com isso criam um clima de "pânico" sobre algo que nem muda lá muito a vida das pessoas.

Fonte: Texto de Marina Rievers, da Portugal Digital.
Disponível em:
http://www.portugaldigital.com.br/sis/noticia.kmf?noticia=7464643&canal=156

Recomendar esta notícia via e-mail:

Campos com (*) são obrigatórios.