Argumentação
Autora: Professora Ana Paula Istschuk – Curitiba/PR Versão na íntegra para impressão |
1. Nível de ensino: Ensino Médio – 2º ano
2. Conteúdo Estruturante: Discurso como prática social
2.1 Conteúdo Básico: Gêneros discursivos, práticas de escrita, oralidade.
2.2 Conteúdo Específico: Argumentação
3. Objetivos
• Reconhecer a importância da argumentação e da reflexão nos processos comunicativos.
• Conhecer os vários tipos de argumentação.
• Utilizar os tipos de argumentos na forma oral e escrita.
4. Número de aulas estimado: 3 horas-aula
5. Justificativa
A argumentação é primordial em todas as esferas da atividade humana.Cotidianamente situações comunicativas exigem que, por meio de palavras, tenhamos que afirmar, explicar, contestar, criticar, enfim, sustentar uma posição acerca de assuntos polêmicos ou não. A argumentação pode ser realizada oralmente ou na forma de escrita, e para ambas são necessárias conhecer alguns recursos que possibilitam a escolha apropriada da palavra, saber utilizar corretamente os recursos que a língua nos oferece, planejar o modo de dizer, conhecer, os tipos de argumentos e os efeitos que cada um deles exerce, seja na oralidade ou na escrita.
Acredita-se que argumentação é um elemento central da comunicação, que exige reflexão e aprimoramento, e que estes devem ser apreendidos também na escola. È nesse sentido que essas aulas são elaboradas, para que o aluno possa desenvolver e aprimorar a argumentação, parte essencial da vida humana, pois por meio dela os alunos terão mais condições de esclarecer as suas posições, de maneira que seja possível para os outros compartilharem os seus pontos de vista ou ao menos acompanhar como chegam a certas conclusões.
1ª Aula
Começar a aula com uma conversa com os alunos acerca de alguns assuntos polêmicos com intuito de levá-los a posicionar-se, contra ou a favor, diante de tais temas.
Para instigar as discussões, pedir para que os alunos leiam os textos abaixo, que constituem o Banco de Redações do site UOL Educação e problematizam questões polêmicas.
Texto 1 - Cotas nas universidades: você é a favor ou contra?
Poucas iniciativas governamentais têm criado tanta polêmica como esta. A implantação do sistema de cotas para afrodescendentes e negros tem produzido manifestações inflamadas e completamente antagônicas. Há os que sustentam as cotas como o início da eliminação de diferenças históricas entre negros e brancos. Há os que dizem que a medida é absurda, pois discrimina ainda mais o negro, fingindo integrá-lo. Outros acham que as cotas devem seguir apenas critério econômico, e não racial. Há também os que acham que não deve haver cota, só o mérito pessoal dos candidatos.
Disponível em: <http://educacao.uol.com.br >. Acesso em: 28/10/2013
Após a leitura, questionar os alunos: Observe que o texto apresenta opiniões de pessoas que por razões distintas se posicionam contra ou a favor à polêmica apresentada, como no trecho: “Há os que sustentam as cotas como o início da eliminação de diferenças históricas entre negros e brancos.” Perguntar: Como vocês se posicionam nesta polêmica? A favor ou contra?
Pedir para que os alunos pensem e respondam apresentando, pelo menos, um argumento que sustente sua posição.
Após discussão, ler o segundo texto:
Texto 2 - Deve-se reduzir a maioridade penal no Brasil?
Toda vez que um crime cometido por um menor de idade ganha evidência na mídia, cria-se uma comoção nacional e a polêmica envolvendo a maioridade penal vem à tona. Isso ocorreu recentemente, após um jovem prestes a completar 18 anos ter assassinado um universitário por causa de um celular, no início de abril, em São Paulo. Pesquisa Datafolha, uma semana depois do fato, revelou que 93% dos paulistanos eram favoráveis à redução da maioridade penal, uma vez que, no Brasil, os menores de 18 anos não respondem criminalmente por seus atos. Dezesseis anos é a idade mais cogitada para marcar esse limite. A principal alegação apresentada na defesa dessa mudança é o precoce amadurecimento do jovem, que hoje tem fácil acesso a informações e discernimento suficiente inclusive para votar. No entanto, os opositores dessa mudança alegam que outros casos surgirão com jovens (ou até crianças) com idades inferiores a essa, uma vez que as causas do problema não estariam sendo combatidas.
Disponível em: http://educacao.uol.com.br . Acesso em: 28/10/2013
Após a leitura, questionar: E você, o que acha? Deve-se alterar a maioridade penal no Brasil?
Reforçar que a resposta deverá ter pelo menos um argumento que sustente a posição.
Na medida que os alunos vão apesentando suas ideias, faça algumas observações sobre a forma que ele argumenta.
O importante é que, após as discussões, os alunos percebam que são muitas as situações comunicativas em que temos que, por meio da palavra, afirmar, explicar, contestar, criticar, em suma, assumir uma posição diante de alguma questão polêmica ou não.
Esclarecer, ainda, que podemos emitir opiniões à toa, na base do "eu acho", ou reforçá-las por meio de informações convincentes. Uma boa argumentação envolve escolher palavras apropriadas, recorrer aos recursos que a língua oferece, planejar o modo de dizer e os argumentos que serão utilizados para convencer ou persuadir quem tem uma posição diferente da sua.
Para exemplificar isso, apresente dois trechos de textos - um com argumento contrário e outro favorável a essa questão polêmica.
“Encarcerar adolescentes não vai nos trazer paz ou segurança. Vai apenas armar outra de tantas bombas-relógios montadas no sistema penitenciário, que alguns supõem, por um desvio exagerado da lógica, que jamais retornarão para explodir em nossos próprios colos”.
(SEMER, Marcelo. Reduzir maioridade penal é um erro. Disponível em: <http://altamiroborges.blogspot.com.br/2013/01/reduzir-maioridade-penal-e-um-equivoco.html>).
“Em artigo, o presidente do PRB e especialista em processo penal, Marcos Pereira, destacou que o Brasil é um dos poucos países que mantêm a idade limite para responsabilização penal em 18 anos. 'Sou favorável que a redução seja para 12 anos, porque os adolescentes de 12 anos de hoje não são como os de 1940, época do Código Penal brasileiro, e nem como os de 1988, data da promulgação da vigente Constituição', analisou no texto.”
(ZAMPIER, Débora. Redução da maioridade penal é tema controverso entre juristas. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-07-13/reducao-da-maioridade-penal-e-tema-controverso-entre-juristas>.)
A partir dos exemplos apresentados, reforçar a ideia de que ao argumentarmos precisamos escolher as palavras apropriadas; ao fazermos uma comparação por dados devemos utilizar fontes confiáveis; quando utilizarmos um argumento de autoridade é necessário nos certificar de que este é de um especialista no assunto, ou seja, uma pessoa que responde àquele assunto com propriedade, como nos argumentos demonstrados anteriormente, ambos de pessoas com credibilidade no assunto (um Juiz de Direito de São Paulo e uma Repórter da Agência Brasil).
Em seguida, passar o trecho do filme Obrigado por fumar. Pedir para que os alunos prestem atenção no discurso das personagens, para que depois possam discutir alguns aspectos que serão propostos.
Dizer que o trecho que assistirão é do filme Obrigado por Fumar (Thank You for Smoking), de Jason Reitman, baseado no livro de Christopher Buckley. Este filme é uma sátira sobre a indústria do fumo e das artimanhas de um lobista da área, Nick Naylor, que defende a ideia de que fumar faz bem, ou não faz diferença, pois as pessoas morrem por muitos outros motivos. Esse personagem é um especialista em argumentar e desconstruir qualquer conceito ou argumento. O filme demonstra como um bom orador consegue manipular a opinião pública. Antecipar aos alunos que a cena desse trecho é um diálogo em que o filho pede ao pai (Nick Naylor) que o ajude na realização da tarefa escolar.
Após assistirem, perguntar aos alunos:
1. A redação proposta pela professora exige um posicionamento do aluno? Por quê?
2. Quando o personagem diz: Vou ignorar o problema da sintaxe e focar mais na essência da pergunta. O que o pai quis dizer com isto?
Sobre essa questão, o professor poderá comentar que ao trazer no título a afirmação de que o país é o melhor do mundo não abre a possibilidade de discordar, cabendo ao aluno apenas uma argumentação positiva sobre o tema.
3. Na fala do personagem: “Se argumentar corretamente nunca estará errado”, o que você compreende? Você concorda ou discorda, por quê?
Para melhor discutir essa afirmação, apresentar ao aluno o seguinte exemplo:
Todos os homens são mortais.
Sócrates é homem.
Logo, Sócrates é mortal.
Após leitura, esclarecer aos alunos que este trecho é um argumento formado por um conjunto de enunciados que estão relacionados uns com os outros e que são constituídos por premissas e conclusão.
Perguntar: Neste trecho existem duas premissas e uma conclusão. Quem pode identificar?
Caso alguém identifique, perguntar por quê? Caso os alunos não identifiquem, informar que as duas primeiras sentenças são as premissas e a última a conclusão.
Explicar que premissa significa a proposição, o conteúdo, as informações essenciais que servem de base para um raciocínio, para um estudo que levará a uma conclusão. O argumento, nesse caso, vem precedido de um operador argumentativo, ou conjunções - que são palavras ou expressões responsáveis pela ligação, pela coesão de duas orações. É a conjunção conclusiva “logo” que, assim como outros operadores (por conseguinte, pois, em decorrência, consequentemente) introduz a conclusão dos argumentos apresentados anteriormente.
Após os alunos opinarem sobre as premissas, esclarecer que:
- os fatos apresentados nas premissas servem de evidência para a conclusão, isto é, são eles que sustentam a conclusão;
- para o argumento ser válido, não basta que a conclusão seja verdadeira, é preciso que as premissas e a conclusão estejam relacionadas corretamente;
- a validade de um argumento depende se sua estrutura, da maneira como este está organizado.
- o argumento deve estabelecer uma relação com a premissa. Enfim, quando a conclusão não é uma consequência necessária das premissas, dizemos que o argumento é inválido.
Em seguida, retomar a afirmação do filme, em que o pai diz: “Se argumentar corretamente nunca estará errado”. O que o pai quis dizer com isso?
Após comentários dos alunos é importante finalizar a aula afirmando que, independente de qual seja seu ponto de vista, o importante é que os argumentos estejam estreitamente relacionados, sempre mantendo uma relação entre a premissa e a conclusão. Somente nesse caso podemos dizer que a afirmação do pai é verdadeira.
Para a próxima aula, pedir aos alunos que pesquisem e leiam sobre os malefícios e/ou benefícios que a internet traz para a vida das pessoas. Oriente-os para que façam um levantamento dessas informações, que serão fundamentais para a realização da próxima atividade.
2ª Aula
Atividade 1
Nessa aula, passar aos alunos o vídeo que apresenta uma pesquisa sobre o comportamento do brasileiro em relação à internet, tecnologia e redes sociais. Dizer que esse vídeo traz alguns dados que servirá como fonte de informações para a próxima atividade.
Internet, tecnologia e redes sociais
Passo a passo para a atividade dessa aula:
1. Passar o vídeo: http://vestibular.brasilescola.com/banco-de-redacoes/tema-internet-inclui-ou-exclui.htm
2. Entrega uma folha com as alternativas referentes ao conteúdo apresentado no vídeo.
3. Fazer a contagem com os alunos dos resultados marcados por eles.
4. Comparar se a porcentagem da pesquisa equivale em números com o resultado obtido na classe.
5. Fazer um bate papo com a turmar sobre essas mudanças de comportamento, levantando aspectos positivos e negativos que esses novos hábitos provocam na vida das pessoas.
Na folha entregue aos alunos perguntar: Das alternativas apresentadas abaixo em qual(is) dela(s) você se enquadra (Dizer aos alunos que não precisam se identificar na folha de respostas):
a) nos 68% da população que usa a internet para dizer o que está fazendo e sentindo.
b) no percentual de 9 entre 10 pessoas que compartilham fotos na internet.
c) nos 60% de pessoas que mantêm um relacionamento à distância.
d) nos 26% das pessoas que já postou alguma declaração amorosa.
e) nos 15% das pessoas que postam fotos de roupas íntimas na internet.
f) nos 34% que acham mais fácil começar uma paquera pela internet.
g) nos 66% considera traição quem dá intimidade na internet.
h) nos 19% dos que já terminaram um relacionamento pela internet.
i) nos 72% que vasculham a vida dos outros na internet.
j) nos 37% trocaram o jornal pela internet.
Na sequência, realizar o restante dos passos: 3, 4 e 5.
Atividade 2
Dizer aos alunos que, munidos das informações até então discutidas e pesquisadas por eles, farão um debate com o intuito de praticar a argumentação em defesa de um ponto de vista.
A atividade chama-se “Tribunal de opinião”. Sugere-se que essa atividade tenha 30 minutos. Ela foi adaptada de: Caderno de Apoio ao Educador. Artigo de opinião. Fortaleza, 2010.
1. Criar um tribunal para julgar um assunto polêmico: “As vantagens que a internet proporciona compensam os problemas que ela pode provocar?"
Como desenvolver a atividade?
Deve-se formar três grupos:
O primeiro grupo defenderá a ideia de que "As vantagens que a internet proporciona NÃO compensam os problemas que ela pode provocar."
O segundo grupo defenderá a ideia de que "As vantagens que a internet proporciona compensam SIM os problemas que ela pode provocar.
(Estes dois grupos ficarão sentados frente a frente).
O terceiro grupo será o público, que, através de palmas, se manifesta cada vez que uma opinião lhe pareça convincente.
Obs.: É interessante que o professor eleja dois alunos para anotarem os argumentos mais interessantes do grupo do NÃO e do grupo do SIM.
Encaminhar a atividade:
a) O debate deve inciar por alguém de um dos grupos, apresentando um argumento ou opinião. O outro grupo tem direito de réplica. E assim sucessivamente com as diversas argumentações.
b) O terceiro grupo composto pelo público pode bater palmas quando concordarem com
a argumentação (o professor deve estimular essa participação).
c) Escolher um aluno para ser o mediador que deverá controlar os tempos de sequências de direito de palavra, que deverá ser de um minuto e meio. Este também deverá cuidar para que ninguém interrompa a fala do outro.
Após o término do debate, pedir aos dois alunos que leiam os argumentos anotados. O professor, junto com a turma, analisa cada dos argumentos verificando se foram pertinente ao tema proposto, se estão embasados em fatos comprovados ou se estão na base do "eu acho". E, por fim, verificar se a partir dos argumentos apresentados pelos grupos alguém mudou seu posicionamento sobre o assunto discutido.
3ª Aula
Na aula anterior, os alunos tiveram que se posicionar a favor ou contra a um determinado assunto utilizando argumentos. Nesta aula, o professor dirá aos alunos que aprofundarão os conhecimentos a cerca dos vários tipos de argumentos existentes que são utilizados para variados propósitos.
1. Para tal aprofundamento, conduzir os alunos à biblioteca da escola. Organizá-los em grupos de seis alunos.
2. Entregar para cada grupo dois tipos de argumentos com a definição.
Exemplo:
Grupo 01
Argumento de autoridade: No argumento de autoridade o auditório é levado a aceitar a validade da tese ou conclusão defendida a respeito de certos dados, pela credibilidade atribuída à palavra de alguém publicamente considerado autoridade na área.
Argumento de comparação: No argumento por comparação o argumentador pretende levar
o auditório a aderir à tese ou à conclusão com base em fatores de semelhança ou analogia evidenciados pelos dados apresentados.
3. Com os tipos de argumento em mãos e as definições, o professor deve orientar os alunos que realizem uma pesquisa nos livros, revistas, jornais e outros materiais previamente separados por ele, encontrando os tipos de argumentos para eles destinados. Nesse momento, o professor deve atendê-los nos grupos individualmente, tirando as dúvidas e orientando-os na pesquisa.
Tipos de Argumentos
4. Dizer aos alunos que deverão apresentar, na próxima aula, o resultado da pesquisa. O resultado deverá ser apresentado das seguintes maneiras:
Produção de um vídeo demonstrando os tipos de argumentos existentes e as situações comunicativas em que eles podem ser empregados. Ex.: Um debate sobre um tema polêmico como maioridade penal, a participação ativa do jovem em manifestos, legalização do aborto, ou outro que achem pertinente de acordo com a realidade local. Importante frisar que devem utilizar os argumentos pesquisados.
Obs.: Na atividade de apresentação do vídeo, o professor deve intervir sempre que achar necessário.
Produzir um texto opinativo que pode ser o artigo de opinião, empregando adequadamente os argumentos pesquisados. O texto deverá abordar o assunto que foi debatido no vídeo. Dizer que os textos serão expostos no mural da escola, ou disponibilizados, caso haja, no site ou blog da escola. A disponibilização ou exposição dos textos deverá ocorrer após a correção e apontamentos do professor, e reescrita se necessário.
Esclarecer aos alunos que o artigo de opinião é utilizado por pessoas que desejam expor publicamente suas posições sobre assuntos que provocam controvérsias na sociedade. "Artigo de opinião é um gênero jornalístico argumentativo escrito, publicado em jornais, revistas, internet, e sempre assinado. A assinatura identifica o autor, o responsável pela opinião". (GAGLIARDI, Eliana; AMARAL, Heloisa, 2004).
Nessas aulas a intenção é que o aluno compreenda e utilize a argumentação adequadamente, por isso não há necessidade de aprofundar nas especificidades do gênero artigo de opinião. Isso poderá ser feito nas próximas aulas, já que poderão utilizar os argumentos como uma maior autonomia e propriedade.